quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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Eis a primeira indignação que aqui se publica em 2008... 


... não é só dizer mal por dizer. No meio de algumas destas "indignações" estão, também, algumas dúvidas. Seja como for, causa-me algum incómodo ver qualquer coisa na TV legendado, não só porque sou bom entendedor da língua inglesa como porque o sou também da língua portuguesa. Passemos aos exemplos: Porque motivo se faz uso incessante das expressões "por que" e "por quê" quando existem as palavras "porque" e "porquê"? Fui procurar as definições destas palavras e eis o que achei:


«Porque» "Substantivo 1. liga duas orações, introduzindo a que explica ou responde a questão posta na anterior."
«Porquê» "Substantivo 1. razão, motivo."
«Por» "Preposição 1. Exprime, entre outras relações, as de: causa, modo, tempo, meio, lugar, qualidade, estado, preço, etc..."
«Que» "Substantivo 1. Qualquer coisa, alguma coisa, certa coisa; 2. O mesmo que quê; Adjectivo 1. Quanto, quão, quão grande, qual; Pronome 1. Pronome relativo - o qual, a qual, os quais, as quais, o que, aquilo que, em que, no qual, durante o qual; 2. Pronome interrogativo - quem?, qual coisa? quais coisas?, onde?; Conjunção 1. Introduz orações subordinadas integrantes, consecutivas, causais, temporais, concessivas, finais, disjuntivas; Advérbio 1. Quão, quanto"
«Quê» "Pronome 1. Usado no final de frases. Interjeição 1. Exprime espanto, surpresa. Substantivo 1. Décima sétima letra do alfabeto latino, representada pelos símbolos "Q", "q". 2. Alguma coisa, algo."


Bom, aparentemente não me parece que um "por" acrescido de um "quê" tenha o mesmo significado de um "porquê". Sou só eu que penso assim? Este, no entanto e apesar de me assombrar, não é a questão que mais me perturba. Ler coisas como "tive em casa" quando na realidade "esteve-se em casa" [para os mais distraídos, "tive" é forma verbal de ter enquanto "esteve" é forma verbal do verbo estar...] ou, fenómeno cada vez mais frequente, ler palavras hifenizadas à força. Quem não leu ainda coisas do estilo "se eu estive-se em casa" ou "tu disses-te"?


Quem não testemunhou também a terrível troca de identidades que a interjeição "ah", a formal verbal "há", a contracção "à" e o... nada [... porque simplesmente não existe em português] que é o "á" sofrem? Na Internet é "aceitável" ["esperável" é a palavra mais indicada] uma vez que, por ser um recurso mais ou menos acessível a todos, os mais incultos têm liberdade para espalhar o seu mal pelos demais cibernautas. Acho estes dos mais terríveis e abomináveis erros da língua portuguesa. Mostra o quão desprezável o indivíduo a acha, pois não tem a mínima noção da função do hífen nem a diferença entre formas verbais, interjeições, contracções e o nada... demonstrando a sua falta de cultura e de leitura, a sua tacanhez. Quando uma coisa dessas aparece na TV, o responsável devia ser preso por estar a difundir tamanhas aberrações. Devia ser crime punível!


... mooving on, para mais um, o último, exemplo deprimente. Documentários temáticos, como os que passam no Discovery Chanel, são bastante interessantes de ver e, quiçá, mereciam mais destaque nos canais que de generalistas nada têm [... tenho também as minhas dúvidas se não se chama generalista a um canal que apenas transmite telenovelas zucas, reality shows e notícias sensacionalistas]. No entanto, quando um indivíduo que entende inglês [a língua em que a maioria dos documentários é originalmente falado] se põe a ler as traduções legendadas... e a ouvir o que é dito na língua original, são inúmeras as vezes em que o que é "traduzido" não corresponde ao que é dito e outras tantas são as vezes em que algo mais ou menos complexo de traduzir não é, sequer, legendado. Acrescente-se traduções de coisas que mereciam ser mais técnicas e que de técnicas nada têm, com palavras em inglês cujo significado em português não é aquele porque são traduzidas.