sexta-feira, 30 de março de 2012

Tédio

Churchill afirmou existirem três tipos de pessoas: as que se preocupam até à morte; as que trabalham até à morte; e as que se aborrecem até à morte.

Não sei qual o meu tipo, mas espero não estar incluído no último grupo.

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Solidão

É complicado.

Nos momentos difíceis, temos muitas vezes a tendência para procurar consolo naqueles de quem mais gostamos na esperança de aí encontrar a solução para os nossos males. Muitas vezes, o racional simplesmente perece perante o emocional...

Receava como seria o meu comportamento, receava ir-me abaixo, mas nada disso aconteceu. Ao que parece, era um assunto bem arrumado e não passa de um episódio trágico. Contudo, a minha frieza incomoda-me, não pela ausência de tristeza e melancolia mas pela situação em si. Que mais poderá ser tão triste como morrer e não ter quem nos chore, alguém em quem deixamos saudade?

Incomodou-me ter que limpar os últimos sinais dela, a bicharada e a humidade deixada no soalho, incomoda-me ver os seus pertences, mexer nas suas coisas, mais ou menos íntimas, mas ainda assim não consegui ainda verter uma lágrima.

Dei por mim ontem a olhar algumas das dezenas de fotos que estavam arrumadas nas caixas de sapatos, misturadas. Achei piada em ver algumas fotos de quando era miúdo e que nunca tinha visto, de ver a minha mãe mais nova que eu, de olhar rostos ancestrais cujos nomes já foram esquecidos e sentir que já foram gente... É algo que gosto muito de fazer, contemplar fotografias.

No meio de tantas, também ela lá tinha lugar. Uma fotografia de família, em particular, tocou-me: estava a pousar com a mãe e a irmã mais nova sob uma fotografia do pai. E houve um momento, bastante longo, durante o qual me senti triste enquanto a olhava. Por um lado, a percepção de que também ela ja fora jovem, que já possuíra um corpo e feições que eu não chegara a conhecer; por outro lado, era o mesmo olhar e isso tornou tudo muito real. Independentemente de tudo, devo-lhe parte do que sou. Nos bons e nos maus momentos, tudo pelo que passei me tornou no que sou e me levou a encarar as coisas como o faço. E lamentei. É muito triste um desfecho destes. É triste morrer sozinha, caída no chão de um quarto, esquecida.

Continuo a não conseguir chorar a sua falta, por mais grosseiro que possa parecer, mas cá tenho as minhas razões. Sinto-me muito triste quando penso que haviam todos os ingredientes para sermos família, daquelas que se junta em datas especiais ou simplesmente porque sim para comer e confraternizar; quando penso que a sua ausência deveria ser sentida; sinto-me triste quando percebo que não estou triste e que ninguém em torno o está; sinto-me triste quando penso que havia tanto que podia ter sido e não foi...